O Banco do Brasil (BBAS3), uma das maiores instituições financeiras do país, divulgou recentemente seus resultados do primeiro trimestre de 2025, gerando forte repercussão no mercado. O banco reportou um lucro líquido ajustado de R$ 7,37 bilhões, uma queda de 20,7% em relação ao mesmo período de 2024, ficando bem abaixo do consenso de mercado, que era de R$ 9,23 bilhões. Esse desempenho abaixo do esperado, combinado com o aumento da inadimplência no setor agropecuário e o impacto de novas regras contábeis, resultou em uma queda expressiva de mais de12,% nas ações do BBAS3 nos 30 dias que antecederam a publicação desse post, com o preço de fechamento de R$ 24,67 no dia de hoje. Para os investidores, essa queda levanta uma questão crucial: seria este o momento de comprar as ações do Banco do Brasil, uma empresa fundamentalmente sólida, a um preço descontado, ou um sinal para evitar o investimento (uma armadilha de valor)? Neste post, analisaremos os resultados do 1º trimestre de 2025 do Banco do Brasil e os prós e contras de investir na instituição após essa recente desvalorização.
Resultados do 1º Trimestre de 2025: O Que Aconteceu?
O desempenho do Banco do Brasil no 1º trimestre de 2025 desapontou o mercado por diversos motivos:
- Queda no Lucro: O lucro líquido ajustado de R$ 7,37 bilhões caiu 20,7% em relação ao 1º trimestre de 2024 e 23% em comparação ao 4º trimestre de 2024, ficando abaixo das expectativas de R$ 9,23 bilhões. Isso foi impulsionado por uma redução de 7,2% na margem financeira bruta, que atingiu R$ 23,9 bilhões, com destaque para a queda de 34,9% na margem de mercado.
- Aumento da Inadimplência: A taxa de inadimplência (acima de 90 dias) subiu para 3,86% em março de 2025, ante 3,32% em dezembro de 2024 e 2,90% em março de 2024. O portfólio agropecuário, que representa cerca de um terço da carteira de crédito do banco, viu a inadimplência alcançar 4,5%, impactada por problemas na safra 2023/2024 e pelo aumento de provisões devido a recuperações judiciais no setor.
- Novas Regras Contábeis: A adoção da Resolução CMN 4.966/21, que exige provisionamento antecipado de perdas em empréstimos inadimplentes, afetou significativamente os resultados. Essa regra impactou mais o Banco do Brasil devido à sua forte exposição ao agronegócio, gerando um impacto negativo de R$ 1 bilhão na receita líquida de juros (NII).
- Suspensão de Guidance: Em resposta a esses desafios, o Banco do Brasil suspendeu suas projeções para 2025 em métricas como lucro líquido, margem financeira e custo de crédito, citando incertezas no setor agropecuário e nas novas regras contábeis. Essa decisão abalou a confiança dos investidores, sinalizando menor visibilidade sobre o desempenho futuro.
- Outros Indicadores: O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) caiu para 16,7%, ante 21,7% no 1º trimestre de 2024 e 20,8% no 4º trimestre de 2024, o menor nível desde o 3º trimestre de 2021. O custo de crédito subiu 18,9%, atingindo R$ 10,15 bilhões, devido a maiores provisões no portfólio rural. No entanto, a carteira de crédito cresceu 10% em relação ao ano anterior, alcançando R$ 1,28 trilhão, demonstrando resiliência na expansão de empréstimos.
A reação do mercado foi imediata, com uma forte venda de ações do BBAS3, refletindo preocupações com a lucratividade, inadimplência e a dependência do banco no volátil setor agropecuário. Mas será que essa queda representa uma oportunidade de compra, ou os riscos são altos demais?
Prós de Investir no Banco do Brasil (BBAS3)
Apesar dos resultados decepcionantes, há vários fatores que tornam o Banco do Brasil uma opção atraente no preço atual:
- Valuation Atraente: Após a queda, o BBAS3 é negociado a aproximadamente 0,78 vezes seu valor patrimonial e com uma relação preço/lucro (P/L) de 5,74, abaixo de sua média histórica, que é de 6,48 . Isso sugere que a ação pode estar subvalorizada em comparação com pares como o Itaú (ITUB4), sendo uma potencial oportunidade para investidores de longo prazo.
- Alto Dividend Yield: O Banco do Brasil tem um histórico sólido de pagamento de dividendos, com uma projeção de dividend yield de cerca de 9,4% para 2025, considerando uma política de payout de 40-45%. O banco anunciou R$ 516,3 milhões em juros sobre capital próprio (JCP) para o 1º trimestre de 2025, a serem pagos em 12 de junho de 2025, reforçando seu compromisso com os acionistas. Para investidores focados em renda, isso é um grande atrativo.
- Crescimento Resiliente do Crédito: Apesar dos desafios, a carteira de crédito do banco cresceu 10% em relação ao ano anterior, impulsionada pelo aumento no agronegócio (9%), empresas (22,4%) e varejo (6,6%). Isso demonstra a capacidade do banco de expandir seus negócios principais, mesmo em um ambiente adverso.
- Posição de Mercado Forte: Como o segundo maior banco do Brasil em ativos (R$ 2 trilhão) e líder no financiamento ao agronegócio (53,5% de participação de mercado), o Banco do Brasil se beneficia de sua escala e operações diversificadas, incluindo varejo bancário, seguros e presença internacional. Seu status de banco estatal oferece estabilidade, e os esforços de transformação digital, como a integração com PIX e APIs, posicionam o banco para crescimento futuro.
- Potencial de Recuperação no 2º Semestre de 2025: Analistas da Genial Investimentos e do BTG Pactual sugerem que a inadimplência no agronegócio pode se estabilizar no segundo semestre de 2025, à medida que os produtores quitarem dívidas para acessar novos créditos para a próxima safra. Além disso, uma taxa Selic elevada (atualmente em patamares altos) pode impulsionar as margens de juros em cerca de 10% ao ano, apoiando a lucratividade.
- Otimismo de Analistas: Apesar de revisões para baixo, alguns analistas mantêm uma visão positiva. A XP Investimentos e a Genial Analisa recomendam “compra” com preços-alvo de R$ 41 e R$ 34, respectivamente, sugerindo um potencial de valorização significativo a partir do preço atual de R$ 25,67. Esses alvos refletem confiança nos fundamentos de longo prazo do banco.
Contras de Investir no Banco do Brasil (BBAS3)
No entanto, há riscos importantes que os investidores devem considerar antes de investir:
- Riscos Persistentes de Inadimplência: O aumento acentuado da inadimplência no agronegócio (4,5% no 1º trimestre de 2025) continua sendo uma grande preocupação, especialmente porque esse setor representa um terço da carteira de crédito do banco. Analistas do BTG Pactual e do JPMorgan apontam que o ciclo de deterioração de crédito pode persistir até o 2º semestre de 2025, exigindo maiores provisões e pressionando a lucratividade.
- Impacto das Novas Regras Contábeis: A Resolução 4.966/21 afetou desproporcionalmente o Banco do Brasil devido à sua exposição ao agronegócio, levando ao reconhecimento antecipado de perdas e à redução da receita líquida de juros. Essa mudança regulatória introduz incertezas contínuas, já que o banco ainda não forneceu uma nova guidance revisada.
- Menor ROE e Lucratividade: A queda do ROE para 16,7% sinaliza uma lucratividade enfraquecida, com analistas da Nord apontando que, apesar dos múltiplos baixos do BBAS3 (6x lucros, 0,8x valor patrimonial), ele ainda é menos atraentes em comparação com pares como o Itaú, que oferece maior eficiência e menor risco setorial. Um ROE projetado de 17% para 2025 está apenas ligeiramente acima do custo de capital do banco, sugerindo criação de valor limitada.
- Risco Político: Como um banco controlado pelo governo, o Banco do Brasil está sujeito a influências políticas, o que pode levar a políticas que priorizem a expansão de crédito em detrimento da lucratividade. Analistas da Empiricus Research destacam isso como um risco chave, podendo prejudicar retornos de longo prazo.
- Sentimento de Mercado e Volatilidade: A forte venda após os resultados e as revisões para baixo por BTG Pactual, Bradesco BBI e Goldman Sachs (preço-alvo reduzido para R$ 25) refletem uma visão cautelosa do mercado. Alguns analistas, como os do Safra, veem upside limitado (preço-alvo de R$ 30), e a Nord prefere o Itaú por seus fundamentos mais sólidos. Esse sentimento negativo pode levar a maior volatilidade.
- Incerteza com a Suspensão da Guidance: A suspensão das projeções para 2025 abalou a confiança dos investidores, sinalizando incerteza sobre a capacidade do banco de navegar pelos desafios atuais. Sem uma guidance clara, prever retornos torna-se mais especulativo, aumentando o risco.
É o Momento Certo para Investir?
A recente queda nas ações do BBAS3 criou um cenário polarizado. Por um lado, o valuation atrativo e o alto dividend yield tornam a ação interessante para investidores de valor e renda. A forte posição de mercado do banco, o crescimento resiliente do crédito e o potencial de recuperação no setor agropecuário no 2º semestre de 2025 oferecem um caso para otimismo. Por outro lado, os riscos persistentes de inadimplência, as pressões regulatórias e a exposição política introduzem incertezas significativas que podem pesar sobre os retornos no curto e médio prazo.
Para investidores tolerantes a riscos com um horizonte de longo prazo, o preço atual (em torno de R$ 25,67) pode representar uma oportunidade de compra, especialmente se a inadimplência no agronegócio se estabilizar conforme esperado no 2º semestre de 2025. No entanto, investidores mais cautelosos podem preferir esperar por uma guidance mais clara ou sinais de melhoria na qualidade de crédito antes de investir. Aqueles que priorizam estabilidade podem achar pares como o Itaú (ITUB4) mais atraentes devido a menores riscos setoriais e maior eficiência operacional.
Conclusão
Investir no Banco do Brasil (BBAS3) após os resultados do 1º trimestre de 2025 exige uma análise cuidadosa de seu valuation atrativo e dividend yield elevado em relação aos riscos de inadimplência, desafios regulatórios e exposição política. Embora o preço atual reflita um potencial desconto, a falta de guidance e as pressões contínuas no setor agropecuário sugerem que a paciência pode ser necessária. Como sempre, os investidores devem avaliar sua tolerância ao risco, horizonte de investimento e diversificação de portfólio antes de tomar uma decisão. Fique atento aos resultados do 2º trimestre de 2025 do Banco do Brasil e a eventuais revisões na guidance, pois esses eventos fornecerão insights críticos sobre a trajetória do banco.
Disclaimer: Este artigo é apenas para fins informativos e não constitui recomendação de investimento. Sempre realize sua própria pesquisa ou consulte um consultor financeiro antes de tomar decisões de investimento.
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